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quinta-feira, 1 de julho de 2010

A CULPA? DA DENGOSA, UAI!

A CULPA? DA DENGOSA, UAI!

Lêda Selma

Ah! o Banco do Brasil, de saudosa memória! Em seus tempos de ouro, o sonho de emprego do brasileiro e o genro mais cobiçado pela maioria dos pais ansiosos por alçar à categoria de “senhora” suas filhas desabrochantes ou encalhadas. Uma ressalva: comigo tudo aconteceu naturalmente, por obra e graça do destino. Coisas do amor!
Pois é, um tempo em que ser funcionário daquela instituição bancária era símbolo de status, de bem-estar financeiro e de prestígio social! Uma titularidade e tanto, muito invejável! E a mulher do titulado, então...!? Bastava ostentar, com o orgulho costumeiro, a profissão de seu estado civil e pronto: os olhares ostensivamente se convergiam para suas bolsas, morada nobre dos dourados talões de cheque.
Entretanto, aquele tempo passou, e cultuar a gloriosa memória do saudoso Banco do Brasil é exercício de melancólica nostalgia (o pleonasmo é proposital). E que Deus o tenha, ou melhor, o mantenha! Foi do Collor o primeiro golpe. Depois, vieram outros, e outros, e outros... E, de agonia em agonia, os funcionários dessa época quase sucumbiram. Os que puderam usar a aposentadoria como atalho, salvaram-se. Os que ficaram sofreram, mas conseguiram sobreviver. Aos arrancos e solavancos, é verdade.
Incrível é que, hoje, ainda há quem sonhe, mesmo um sonho já sem viço, em entrar para a família do BB, outrora reduto dos imponentes salários, e hoje, apenas, reduto de sofridos assalariados. Talvez, more aí a razão, sem razão, da decadência dos atendimentos, pois nada os justifica. É necessário mais “Estilo”. Sim, porque, de algumas agências sem “Estilo”, Santo Deus!, melhor fugir, senão, certeza de infarto. E, também, de céu, pois, no caso, o extinto já terá passado pelo purgatório.
Bem, como não adianta chorar sobre o orgulho debandado, vamos ao personagem desta história: pachorrento e movido a álcool, bonachão e espirituoso, ele, um jovem “contínuo” do Banco do Brasil (o office-boy de hoje), muito paciencioso e solícito, sempre ridente e risível, desajeitado em seu um metro e pouco de altura, por um tanto e muito de largura, cabelos corredios e olhos cor de fumaça, cumpria com afinco e tenacidade sua tarefa diária: entregar aos devedores da instituição o indesejado “aviso de cobrança”.
Logo cedo, saía à caça de suas presas. Nunca desacompanhado. Por companhia, a bicicleta de pedigri duvidoso, a “branquela-cheirosa”, sua musa muito amada, concubina de longa data, e, claro! os temidos papéis cobradores. É certo que, não raro, exagerava na afeição à musa e, aí, era um “Deus me segure, por misericórdia!”. E, com o cinismo dos caricatos, dizia cheio de propriedade: “A rua, a bicicleta ou as duas, em conluio, doideceram de vez e tão me entortando as pedaladas!”. E, entre um e outro tombo, os quatro, cúmplices e aventureiros, partiam em busca do desempenho do honroso ofício.
De certa feita, o contínuo, terror dos endividados do Banco do Brasil, pôs-se a caminho para mais uma empreitada. A pasta gordalhufa, de um azul quase celeste, hospedeira antiga de dezenas de documentos, os tais “avisos de cobrança”, como de hábito, era passageira na garupa da bicicleta. Bem atada, ficava imune aos ataques do vento ou de qualquer desequilíbrio previsto ou imprevisto. Assim, lá se foram, mais uma vez, os quatro. Tudo transcorria sob a chancela do corriqueiro, não fosse a trôpega ideia do desatinado “contínuo”: mudar o percurso para encurtar a distância. Como nem a bicicleta, nem a “branquela-cheirosa”, nem os “avisos de cobrança” opinaram, ele tomou (já completamente tomado) a desacertada decisão. E rumou para uma pinguela pendurada sobre um córrego de águas embaçadas e velozes. E, então, foram todos para o brejo, ou seja, para o córrego.
Dia seguinte, perguntado se entregara aos destinatários as cobranças, respondeu de uma só golada: “Se peixe pagar conta, todas as dívidas serão saldadas”.
Ah! sim, a “branquela-cheirosa”? Uma inseparável garrafa de pinga.

7 comentários:

  1. Oi, Leda, parabéns pelo blog e pela crônica; acompanhei a nostalgia do nosso velho BB (hoje bastante desfigurado)e dei boas risadas do atrapalhado e espirituoso contínuo.
    Com o blog ficará mais fácil para seus conterrâneos acompanharem suas gostosas crônicas. Passarei o endereço para meus irmãos e para minha mãe (Maroca, gde amiga da sua), que também entrou no mundo virtual. Abração. Roseli

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  2. Leda Selma,
    parabéns pelo blog. Longa vida!!!

    Lisandro Nogueira

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  3. Estou chique demais, Lisandro, você visitando meu blog! Obrigada. Beijão. Lêda

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  4. Oi, Roseli, obrigada pela visita e pela divulgação! Você soube que minha mãe faleceu em dezembro? Beijocas. Lêda

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  5. Lêda, adorei seu blog, twitei para meus amigos o endereço para vistação....
    P.S. Mainha vai adorar....
    Beijos,
    Mabel

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  6. Houve um tempo em que carreira no Banco do Brasil era certeza de pelo menos dois imóveis no melhor bairro da cidade, dois carros último tipo na garagem e um mês de férias num excelente hotel, com toda a família. Os funcionários do banco eram uma casta a parte. Foi bom enquanto durou. Para eles, os funcionários. Quanto aos peixes, não estou bem certa de saberem ler. Caso fossem alfabetizados pagariam as contas, como não são... Como sempre, é uma graça só, do começo ao fim.

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